Como reviver um ecossistema e fazer da tragédia um exemplo de superação
O Brasil, um país tropical de natureza invejável, continua a dar ao mundo péssimos exemplos de gestão ambiental. A legislação ambiental é bem estruturada, mas existem falhas de monitoramento e fiscalização. Como se não bastasse, setores do governo continuam a exercer pressão para aumentar a produção de alimentos e de extração mineral sem pensar na redução de desmatamentos e da poluição. Cada vez mais florestas e ecossistemas são exterminados na Amazônia, no Cerrado, no Pantanal e em diversos outros biomas brasileiros. Enquanto isso o discurso oficial brasileiro na ONU prometeu zerar o desmatamento ilegal até 2030 e tornar a gestão ambiental uma das principais pautas. Na prática o cenário só piora e o Desastre nas Barragens da Samarco em Minas Gerais evidencia a crise da ecologia brasileira.
A tragédia ambiental na cidade de Mariana ocorreu quando a barragem de Fundão se rompeu e erodiu parte da barragem de Santarém. A notícia ocupou as manchetes como um dos principais desastres ecológicos da história brasileira. Milhares de famílias estão desabrigadas e sem acesso a água. Os números apontam dezenas de desaparecidos e mortos. Ecossistemas, casas e lavouras foram totalmente destruídas e demorarão anos para se recuperar. Ainda há risco de rompimento total da barragem de Santarém e de Germano, o que despejaria mais rejeitos do que os vazados até agora.
Segundo o Relatório Anual de Sustentabilidade a produção da mineradora cresceu em 15% no ano passado, gerando 21,9 milhões de toneladas de rejeitos (lama e materiais arenosos). O relatório não traz referências a possíveis obras de aumento de capacidade nas barragens. O lucro da empresa neste período foi de 7,6 bilhões de reais. Ela diz ter investido 1% desse valor em obras de gestão de risco ambiental e manutenção. Por isso o Ministério Público investiga se números não estão sendo manipulados e se existem obras irregulares de expansão acontecendo no local (o que poderia ter causado os tremores e o desastre). As três barragens estavam com o armazenamento de rejeitos no seu limite máximo, o que resultou no embargo da mineração logo após o desastre. Agora o Ministério Público de Minas Gerais acertou uma multa preliminar de 1 bilhão de reais com a Samarco, o que não leva em conta a primeira punição de 250 milhões do Ibama. O valor será utilizado para tentar reviver o Rio Doce e sua economia. Alternativas estão sendo estudadas para recuperar a região, mas todas apontam um período de mais de uma década para a regeneração inicial da área.
Sebastião Salgado, importante fotógrafo e mentor do Instituto Terra, está focado em recuperar o rio e a região. Nasceu e cresceu em torno desta bacia hidrográfica e está arrasado com o desastre. Ele se reuniu na semana passada com representantes do governo buscando arrecadar fundos. O valor para a recuperação ambiental seria superior aos 3 bilhões de reais. Soluções para a descontaminação de solos e águas com metais pesados são diversas: Recuperar as nascentes do rio, utilizar polímeros de acácia negra como coagulante orgânico (auxiliam na decantação da lama), reciclar a terra com técnicas de vermicompostagem (na qual 2,5 gramas de composto orgânico ricos em vermes e húmus podem reter os metais pesados de 7,5 gramas de solo), entre outras. O grande problema é a absurda quantidade de 62 milhões de toneladas de lama despejada e as diversas bacias hidrográficas sedimentadas e contaminadas. Toda região do Rio Doce foi declarada em situação de emergência pelo Estado de Minas Gerais. A lama impede que diversos rios voltem a fluir com a mesma intensidade de antes e contamina a distribuição local de água. As matas ciliares (vegetação de beira de rio) que evitam a erosão da região estão completamente destruídas. O cenário da destruição vai de Minas Gerais ao Espírito Santo, sendo que volumes maiores de lama estão sendo levados pelo Rio Doce até o Oceano Atlântico, o que causará danos a fauna e a flora das mais belas praias da costa brasileira. As correntes marítimas da região podem levar as lamas do desastre para os Estados do Rio de Janeiro e a Bahia. Uma tragédia dessa magnitude não pode passar em branco. Ela é um caso de gestão ambiental que será estudado no mundo inteiro como exemplo negativo. A recuperação pode mostrar que existem alternativas para um mundo sustentável onde a exploração de recursos naturais tem consciência dos seus limites.
– Veja aqui como anda a punição dos reponsáveis pelo desastre ambiental de Mariana 2 meses depois.
Escrito por Pedro Schanzer de Oliveira
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