Em 2013, o universitário Felipe Villela fez uma viagem de carro para a Floresta Amazônica e ficou impressionado com o desmatamento causado pela produção de soja e gado. A partir de então, resolveu aprofundar o conhecimento em agricultura sustentável e decidiu ir estudar na Holanda para tentar mudar este cenário. Atualmente estuda Agricultura Sustentável na cidade chamada Den Bosch na Holanda. Conversei com o Felipe sobre a sua experiência de estudar e morar na Holanda e também sobre o curso de vanguarda em agricultura orgânica na HAS University of Applied Sciences que ele está fazendo ( Universidade de Ciências Aplicadas).
Felipe, conta tua trajetória e o que te levou a buscar o curso de Agricultura Sustentável que estás fazendo na Holanda?
Felipe: – “Nós, seres humanos, não estamos medindo as conseqüências da agropecuária muito bem. Este desmatamento gera inúmeras consequências para o nosso ecossistema. A produção de soja, além de ser transgênica, estimula a degradação do solo, monocultura e a perda de biodiversidade de espécies. Já possuímos mais da metade do solo mundial degradado. A floresta Amazônica é maior floresta tropical do mundo, riquíssima em sua biodiversidade. A sua preservação não é uma necessidade, é uma obrigação. Morando aqui na Holanda, observo que todas as entidades políticas europeias estão tomando providências urgentes para recuperar todos os recursos naturais que já foram destruídos.”
“Na Europa, principalmente, tudo já foi devastado. Será que iremos ter que passar pelo mesmo que os europeus? Por que, nós seres humanos, sempre precisamos experienciar a escuridão para se dar conta da luz no final do túnel, se podemos tomar previdências antes de chegarmos lá? A intenção de “salvar a economia do país” através da exportação de soja, é um pensamento à curto prazo. Assim como a maioria das decisões governamentais conectadas ao meio ambiente e o nosso planeta. É uma pena. O Brasil é um país que tem um potencial enorme de servir como exemplo para o mundo. A agricultura sustentável é o caminho para uma economia inteligente no país.”
J.H. – Qual a filosofia do curso?
Felipe: – “A filosofia do curso é baseada em criar sistemas sustentáveis que sejam eficientes, que gere abundância e oportunidades de mercado. Criar um economia circular onde podemos re-utilizar nossos recursos naturais, o que é desperdiçado. Este sistema de produção de alimentos atual é ineficiente e segue uma linha de pensamento a curto prazo. O curso nos ensina a construir uma linhagem de pensamento a longo prazo, onde nós, seres humanos, sejamos capazes de manter nossos recursos naturais para futuras gerações e produzir alimento para o futuro da população mundial. O curso é interessante pois nos estimula a pensar em coletivo e na prática em como encontrar soluções para um mundo mais sustentável.”
J.H. – Como é o dia a dia do curso?
Felipe: – “O curso é bem prático. No primeiro ano aprendemos sobre o sistema de produção de alimentos mundial, saúde e nutrição, como converter combustíveis fosseis para uma economia de base biológica, sistemas de produção de animais, sistema de produção de agrofloresta e permacultura e como criar seu próprio business. No primeiro ano temos que fazer 2 estágios em 2 lugares diferentes para comparar o aprendizado. O primeiro eu fiz no primeiro projeto de agro-floresta aqui da Holanda e o segundo eu farei em uma fazenda orgânica que criam vacas para produção de queijo e leite. No terceiro ano iremos fazer um estágio fora do país.”
J.H.- Os holandeses têm uma maneira diferente de ver as coisas?
Felipe: -“Os holandeses se importam mais em construir um mundo mais sustentável do que os brasileiros. Eu acredito que se deve ao fato de que eles já destruíram quase todos seus recursos naturais, e agora que encontraram a escuridão no final do túnel, estão procurando soluções para recuperar o que perderam. Os holandeses costumam ser mais profissionais e exigentes do que os brasileiros, eles tem mais aprofundamento de conhecimento e ciência por trás de seus ideais. A cultura brasileira é conhecida por ser mais emocional e sentimental, carregando mais paixão e disposição para mudar à realidade. Por isso que ambos precisam de cada um para crescer e criar algo profissional para enviar a mensagem desejada.”
J.H.- O que é “Food forest”?
Felipe: – Food Forest é o mesmo que Agrofloresta, um conceito baseado na construção de sistemas ecológicos e sustentáveis para produção de alimentos em larga-escala e preservação de eco-sistemas. Também conhecido por produzir uma abundância de alimentos impressionante. A variedade de alimentos que se pode produzir na floresta permite aumentar a qualidade do solo e a circulação de água no sistema. O aumento da biodiversidade na fazenda faz com que seja desnecessário o uso de pesticidas e fertilizantes. No sistema agro-florestal não se utiliza nenhum químico. É uma metamorfose entre agricultura e natureza. Ambos trabalhando juntos para criar um sistema econômico e sustentável.
J.H. O que é permacultura?
Felipe: -Permacultura é um sistema ambientalmente sustentável, socialmente justo e financeiramente viável, mais urbano, baseado em produção de diversos alimentos não necessariamente em larga-escala. Permacultura aplica conhecimentos aplicados de agro-ecologia, que procura trabalhar com a natureza e não contra ela. A Permacultura origina-se de uma cultura permanente do ambiente. Estabelecer em nossa rotina diária, hábitos e costumes de vida simples e ecológicos – um estilo de cultura e de vida em integração direta e equilibrada com o meio ambiente, envolvendo-se cotidianamente em atividades de auto-produção dos aspectos básicos de nossas vidas referentes a abrigo, alimento, transporte, saúde, bem-estar, educação e energia renovável.
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J.H.- Como tu vês a agricultura orgânica e a produção em larga escala de alimentos para a população mundial?
Felipe: – “Acredito que agricultura orgânica ainda sobrecarrega o solo com certos insumos. Já no sistema Agrofloresta é possível produzir em abundância uma diversidade de alimentos e alimentar o aumento da população mundial. O desafio da Agrofloresta é no inicio, quando o produtor precisará ser paciente para ver os resultados, pois leva tempo para as arvores crescerem, e o sistema se restruturar. Contudo eu acredito que o governo irá ser obrigado muito breve em tomar previdências imediatas quanto à forma que produzimos nosso alimento. Cientistas da União Europeia já estão comprovando que a degradação do solo, perda de biodiversidade, poluição da água e na atmosfera têm causado sérios danos para o nosso eco-sistema e pode futuramente ameaçar a extinção humana na terra. Portanto, eles irão ter que procurar formas de pressionar o mercado e os produtores rurais para se conscientizarem e mudarem a forma como eles produzem os alimentos. E é ai que o sistema Agro-florestal irá provar que podemos recuperar tudo que já perdemos e viver em abundância respeitando a natureza e construindo um sistema inteligente biológico e sustentável.”
Felipe: – “Nós estamos tratando o nosso solo, água e ar como lixo e oportunidades de negócio, e não como recursos essenciais para nossas futuras gerações. Até quando, eu me pergunto? Mais de 1.2 bilhões de hectares do solo mundial já está degradado. Já perdemos mais de 52% de animais selvagens ao longo dos últimos 40 anos. Mais de 3.5 milhões de pessoas morrem por ano devido à forma inadequada de tratamento de agua. Mais de 5.5 milhões de pessoas morrem por ano devido à agropecuária e a emissão de gases de efeito estufa. Isso é um absurdo. E sem falar na desertificação que foi e ainda é o maior causador da fome mundial e problemas sociais. Desertificação é a conseqüência da forma como tratamos o nosso solo. E a agricultura tem sobrecarregado nosso solo mundial. Se mudarmos a forma como produzimos nosso alimento, teremos um mundo muito mais pacifico e habitável. Agrofloresta permite transformar areas desertas, de solo agredido, em areas de abundancia de alimentos e preservação ambiental. Eu irei lutar até o final para que eu posso proporcionar um futuro melhor para os meus filhos e netos. Como Marthin Luther King sempre nos ensinou: Nossas vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas que realmente importam.”
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